Publicado em:
17/10/2022
A preocupação com a escassez dos recursos naturais começou a ser discutida no âmbito empresarial em 1970, mas foi a partir de 1990 que as organizações aumentaram seus investimentos em inovação a fim de mitigar os impactos do problema que poderia colocar em xeque o seu crescimento econômico. O desafio levou muitas empresas a incorporarem a sustentabilidade de forma estratégica no core business e, com isso, transformarem suas cadeias de valor.
Nesse cenário, chegamos a 2022 com a agenda ESG – termo que recentemente assumiu o lugar da preocupação ambiental das empresas ampliando o olhar para o social e para a governança – promovendo uma cadeia cíclica e sustentável ousada que exige o desenvolvimento de novas competências para garantir a manutenção de um modelo simultaneamente sustentável e lucrativo.
Acreditando que focar no ESG representa não apenas melhora no desempenho financeiro das empresas, como o fortalecimento da proposta de valor dos funcionários e a atração de clientes fiéis, o relatório CEO Outlook 2022, da KPMG, mostrou que 62% dos CEOs entrevistados disseram que pretendem investir pelo menos 6% de receitas em programas que permitam que suas organizações se tornem mais sustentáveis.
De acordo com artigo publicado em setembro deste ano ”O Dilema do CEO: Construindo Resiliência em Tempo de Incerteza” do Boston Consulting Group, a crise climática e os desafios atuais estão estimulando empresas a adotarem estratégias e compromissos ambiciosos de ESG. Instituições focadas em pessoas, cultura e novas formas de trabalho têm tido um desempenho mais forte. Chamadas de “fortaleza”, elas exploram novos modelos de negócios por meio da inovação, transformação digital e sustentabilidade.
Desafio
Transformar o discurso em prática e fazer da agenda ESG uma realidade concreta e abrangente no mundo corporativo nacional é o grande desafio das empresas. Isso é o que demonstra o estudo inédito realizado pelo Instituto FSB Pesquisa para a Beon, que revelou que embora 80% dos executivos tenham afirmado que questões sociais importantes estão presentes na estratégia de negócios, apenas 22% realizam gestão e acompanhamento dos seus temas ESG relevantes. Em quesito de maturidade na gestão da sustentabilidade, 60% das empresas entrevistadas admitiram não possuir estratégia nesse sentido, comprovando que ainda há muito o que evoluir.
Em resposta, a inovação tem se mostrado como a chave para suportar essas necessidades de desenvolvimento e mudanças de paradigma e culturais nas organizações.
Principal motivadora no processo de mutação industrial que revoluciona a cadeia de valor, a inovação estimula a criação e adaptação dos produtos sob a ótica da economia circular, promovendo o aproveitamento inteligente dos recursos e impactando ainda na redução dos custos da empresa, em medidas que focam, por exemplo, na conservação de energia, na otimização de processos para reduzir os gastos com insumos, na diminuição de desperdícios, na recirculação das águas, dentre outros objetivos.
Comprovando o potencial de crescimento proporcionado pelo “match” entre inovação e sustentabilidade, um número cada vez maior de startups – cujo core está relacionado à inovação – têm agregado valor às suas propostas levando seus objetivos para além do lucro, ou seja, à preocupação com o desenvolvimento sustentável do planeta e da sociedade.
Inovação como estratégia
Para atingir seus objetivos, a inovação deve ser bem planejada. Mensurar o impacto promovido por ela é uma das maneiras de avaliar seu potencial. Pensando nisso, os professores da Fundação Dom Cabral, Fabian Salum e Karina Coleta, idealizaram uma metodologia baseada em evidências e critérios rigorosos para avaliar e reconhecer o impacto socioambiental de novas empresas na América Latina.
A iniciativa com base nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) instituídos na agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), nasceu em 2019 e gerou o Selo iImpact, que reconhece anualmente as startups alinhadas com a solução ou mitigação de problemas socioambientais.
Fomentando um ecossistema que envolve diversos atores – startups, grandes empresas, altos executivos, acadêmicos, ONGs e outras iniciativas da sociedade civil – a iniciativa não apenas contribui com a garantia de um futuro sustentável, como qualifica os negócios para investimentos globais, atuando exatamente no ponto de equilíbrio entre a sustentabilidade e o lucro.